sábado, 3 de janeiro de 2009

Os dois homens


As costas da mulher amparadas no balcão do bar, os cotovelos para trás, fixos na superfície do balcão, e o copo de bebida alcoólica por perto. Cigarro entre os dedos. Só fuma quando bebe. Suas risadas morenas se misturam à meia luz do lugar, ao colorido dos quadros com propaganda de marcas de bebida, à imagem da TV de plasma ao fundo, aos detalhes dourados da decoração e da cerveja.

O bar é Ipanema. Meia luz. Cheiro ora de vodka e limão, com baforadas de tabaco; ora de frutas vermelhas, com raspas de hortelã. O maior desejo dela é conversar com dois homens ao mesmo tempo. Cobrir-se no calor das palavras de dois. Do dobro. Transbordar o que é suficiente. Enrolar-se no ímpeto daqueles estranhos que a procuram para compartilhar uma noite, antes de devolvê-la a seus próprios sonhos. Sonhos que, no fundo, são para uma vida toda, e não apenas para uma noite.

Passava das cinco da manhã. O grupo das amigas tinha ido embora. Ficara ela e os dois desconhecidos. Os homens conquistam sua atenção, sem se reduzirem diante do que é a sua musa incondicional daqueles últimos trinta minutos. Não se curvam, não fazem súplicas, não se ajoelham, não juram amor para sempre. Mas seduzem. Ela sente que, se não demonstrar interesse, pode ser abandonada no balcão. Pode ter a beleza e os instintos renegados. Não gostaria de ser renegada. Nem por um acaso. Nem por uma noite.

Os dois homens estão hipnotizados pela mulher. Também não querem ser desprezados, embora saibam que um deles deverá abdicar da conquista em favor do outro. Abordaram-na ao mesmo momento. Porém, evitam atacar-se, com a nobreza de dois lutadores de esgrima, que trincam espadas, mas preservam a honra do adversário.

As palavras de um deles se enroscam na orelha dela, que retoca a maquiagem no reflexo do cinzeiro de metal. As idéias do outro umedecem seu pescoço e os ombros, que o recorte do vestido deixa à mostra. À mulher tampouco interessa saber por que surgiram. Quer conversar com dois homens ao mesmo tempo. Basta.

Bebem. Os copos esvaziam como uma ampulheta. Quanto mais cerveja é consumida, mais próximos estão do tempo que os levará embora dali. Os clientes todos já deixaram o lugar. O DJ desliga a música, a luz ganha mais intensidade. Os três olham ao redor, a luz do sol entra por uma das janelas. Ao fundo do salão, o cozinheiro está sem camisa. Barriga protuberante e peito cabeludo. Troca o uniforme branco pela blusa com a qual voltará para casa.

O faxineiro varre a pista de dança vazia, separando latas de refrigerante, que lhe renderão alguns trocados na reciclagem. Um dos homens que conversava com a mulher tem boca de alumínio. Logo se vê que também tem olhos de alumínio, joelhos de alumínio, boca, orelhas, coração, nariz de alumínio. O faxineiro separa a estrutura, guarda as peças dentro de uma enorme caixa de papelão. Certamente ganhará bom dinheiro na hora de reciclar.

O outro homem não é de alumínio. O garçon o levanta com certo esforço e o empilha em posição de sentado, de cabeça para baixo, sobre uma das mesas. Fica junto às cadeiras do bar, também empilhadas de cabeça para baixo. O celular da mulher toca. É o táxi, esperando na porta.

Carta e Crônica

O site Olha na Janela inaugura hoje uma seção com sugestões de blogs para seus leitores, na coluna à direita da página. O primeiro deles é o Carta e Crônica, do jornalista carioca Henry Galsky. Correspondente da rádio CBN na guerra entre Israel e Líbano, em 2006, Galsky publica textos sobre os assuntos mais quentes do cenário internacional.

Os temas são abordados de maneira leve e esclarecedora. Perfeito para quem deseja compreender os fatos com o detalhamento que um jornal diário muitas vezes não proporciona, na maioria dos casos, por falta de espaço. O jornalista escreve com habilidade, oferecendo ao leitor conhecimento e base para debates nas rodas fora do ambiente cibernético.

Desde dezembro, o Carta e Crônica faz parte dos blogs oficiais do jornal O Tempo, de Minas Gerais. A prosperidade chinesa, as relações entre Índia e Paquistão, os conflitos no Oriente Médio, as expectativas com a chegada de Barack Obama ao poder. Confira tudo em http://cartaecronica.blogspot.com/.

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Janelas de um edifício na rua do Passeio, entre a Cinelândia e a Lapa, em frente aos jardins do Passeio Público.

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei do Blog Shor! Muito bom!
Mais um para minha lista de blogs interessantes! hehe..
Ah, e vc ficou me devendo uma imitação exclusiva do Sílvio, antes do falecimento total do personagem..rs..
Bjs;)

Anônimo disse...

Edu, muito boa sua crônica! Esta "preguiça de língua" parece vírus, ouço muita gente falando assim...