sábado, 20 de dezembro de 2008

O telefone

– O que é isso sobre a mesa?

– Um telefone.

– Serve para quê?

– Permite que qualquer pessoa, mesmo a milhares de quilômetros desta sala, interrompa uma
reunião como a nossa.

– Está fazendo um barulho estridente.

– Alguém está chamando. Por favor, deixe-me atender. Dá um minuto.

– Como se atende?

– Basta tirar o fone do gancho e responder algo do tipo...“Alô”. A outra pessoa vai perceber que você atendeu e começará a falar sobre o que quiser.

– Não, não pode. Precisamos terminar a reunião, tenho outra marcada em meia hora.

– Antes eu vou atender. Em seguida nós continuamos. É um minuto.

– E se o seu interlocutor quiser falar por mais do que um minuto?

– Sei lá, mando parar, digo que conversamos depois. Vou atender, um instante.

– Você não vai tocar nesse negócio.

– Por quê?

– Simplesmente porque eu já estou aqui. Deve dar preferência a mim. Há um sujeito fora desta sala que vai quebrar o meu raciocínio sobre o assunto. E ele sequer marcou horário na sua agenda. Talvez não te conheça ou nem se importe com você. A quantos quilômetros daqui está essa pessoa?

– Não interessa a distância. O importante é a mensagem que podemos receber pelo telefone.

– Uma mensagem que chega por um aparelho desses não pode ser importante.

– Como você sabe?

– Se fosse tão importante assim, a pessoa teria vindo aqui falar com você. Como eu estou fazendo.

– Isso não tem nada a ver. Ela pode estar muito longe, sem conseguir chegar a tempo de dar o recado que deseja, com a devida urgência.
– Você não tem clientes fora da cidade e toda a sua família mora no mesmo bairro. Esse risco é igual a zero.

– Está enganado. Posso ter sido, enfim, descoberto pelo mundo. As melhores oportunidades surgem quando menos se imagina. O meu potencial está espalhado por aí, a minha vocação é para a fama. Sou inteligente, bonito, sagaz. A Europa quer exemplos de vida assim. O Japão, a China. É possível que seja uma ligação da Austrália, eu vou atender agora!

– Para te ligar da Austrália só se for um canguru. Os australianos estão preocupados com outras questões. Vamos continuar a reunião.

– O telefone parou de tocar! O telefone parou de parou de tocar! Eu não acredito! Quem terá ligado?

– Isso é para aprender a valorizar as pessoas ao seu lado, cada momento que está vivendo. Sentir a essência humana, as emoções, a alma dos seres vivos que estão próximos. Tornar-se um homem mais compreensivo, senhor da sua realidade e do seu tempo. Você não pode se deixar escravizar por um negócio desses. Onde já se viu? Pessoas que nem estão nesta sala. A filosofia oriental explica que...

– Está tocando de novo! Eu vou atender, eu vou atender...

– Não vai, não. Tenho uma reunião em meia hora. Vamos voltar logo ao assunto. Hoje o dia está cheio.

– Você não vai me impedir de atender.

(o homem que desejava atender – sim, ele estava incontrolável – tira o telefone sem fio do gancho e sai correndo para a sala ao lado, mas volta rapidamente. Aquele que ficou esperando é o primeiro a retomar a conversa)

– Quem era?

– Engano.

Foto do leitor

Envie a sua foto de janela para olhanajanela@gmail.com. Não se esqueça de escrever o nome completo do autor do clique e, se possível, a data de quando a imagem foi registrada (dia/mês/ano ou mês/ano). Caso a foto tenha alguma história, fique à vontade para contar.

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O ângulo foi observado no fim da tarde de um desses domingos de novembro, pouco antes do encontro de um bloco tradicional de Maracatu e outro de Frevo, em Olinda, Pernambuco.

– A tranqüilidade da cena não durou muito. Pouco depois de eu tirar a foto, um dos blocos surgiu, a bagunça se instalou e a calma imagem dessas janelas desapareceu, contou o leitor Celso Nesanelowicz, autor do registro.

2 comentários:

Brian Christopher disse...

just passing through :)

Anônimo disse...

Olá vi seu e-mail no clube, tenho um blog também sobre poesias e outros. Se quiser visitar http://monicacoronel.blogspot.com/. Bom saber que outros membros do Clube têm blog com o mesmo propósito, ou parecido. abraços. Monica