quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Um próton


Eriberto se sentiu um próton. Há pessoas que se sentem faraós do Egito, outras um grande mercador da Pérsia antiga. Algumas não vão tão longe. O filho do meu porteiro quando joga futebol se acha o Ronaldinho Gaúcho. Conheço uma senhora que, ao cantar, pensa ser Edith Piaf. Se errar a letra, desculpa-se em francês, pardon. E emenda dois pigarros. A filha, sempre de nariz em pé, aposta que é a encarnação de Cleópatra no calçadão de Ipanema.

Eriberto, não. Da última vez que entrou no metrô do Rio, sentiu-se um próton. A esposa descobriu e ralhou: – Que ambição na vida pode ter um próton? A conta de luz está atrasada, cortaram o telefone ontem e você ainda me vem com essa? Eu me sinto uma palhaça.

Esposa palhaça, Eriberto próton. A sogra foi ter com ele uma conversa: – Nessas condições anormais de temperatura e pressão, ou você se sente, no mínimo, um gás nobre, ou separa da minha filha. Eu já não tenho mais estrutura física e emocional para suportar uma situação dessas! Onde já se viu homem pensar tão pequeno!? Não me faça de mosca morta!

Eriberto próton, esposa palhaça, sogra mosca morta. De nada adiantou. Era próton pelo mesmo motivo que azul não é verde e caneta não é lápis. Quando ele chegou outra vez de manhã cedo à estação do Largo da Carioca, foi cuspido do metrô lotado para nunca mais ser visto.

Sob efeitos de um porre de globalização, tomado no dia anterior, sofrera as ações do gigantesco acelerador de partículas construído na fronteira entre Suíça e França. O engenhoso invento, que movimenta prótons em alta velocidade e estabelece as conjunturas de um big bang em menores proporções, levou o rapaz para outra galáxia - só quem já esteve na estação do Largo da Carioca sabe. E Eriberto se perdeu para sempre no universo que ele mesmo criou.

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Janelas francesas

O que está acontecendo nas janelas de Paris? O leitor João Carlos Aranha enviou um site que permite espiar e descobrir o que ocorre por lá. Acesse em http://www.hyper-photo.com/grandes/paris.html.

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Post Anterior

A foto do post anterior é um registro das janelas do Edifício Avenida Central, tradicional prédio localizado no Largo da Carioca, no centro do Rio de Janeiro.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Desconstrução




As linhas cinzas da modernidade reta viciam o olhar do ser urbano. Não há espaço para a curva ou o desvio do percurso. Constrói o concreto cada vez mais, desconstrói o olhar cada vez menos. Tudo passa a ser uniforme e constante.


Então, a náusea da rotina alcança o cotidiano. Os dias seguem aquecidos, como bate-estaca do operário, bate-estaca do operário, bate-estaca do operário. No ritmo do som suado e ininterrupto do martelo que acerta a cabeça aguda de um prego. No longo ranger da britadeira, que mói áspera o asfalto, as pedras portuguesas, a tolerância dos tímpanos.


Estão fabricando a cidade. Estão domesticando o homem. O seu olhar será conduzido pelas linhas a algo. Ainda não se sabe o quê. As placas das ruas e os sentidos da vida o conduzirão a algum lugar. Ainda não se sabe aonde. A interatividade off-line ou os sites de relacionamento na internet o levarão a alguém. Ainda não se sabe quem. O seu objetivo será alcançado. Ainda não se sabe quando. Nesse meio tempo, vai surgir uma grande idéia. Qual?

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Foto anterior

Para satisfazer a curiosidade, a foto do post anterior foi tirada no mês passado, na Cinelândia. De fato, não me recordo o número do prédio, mas é bem próximo ao Cine Odeon.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Olha na janela



No início do século XX, os vizinhos conversavam uns com os outros das janelas de suas respectivas casas. Era afastar a cortina, levantar o vidro, debruçar-se sobre o parapeito e contar ou ouvir as novidades. Hoje há pessoas que continuam a fazer isso, embora as janelas mais comuns sejam as dos programas de computador.

Basta ligar o equipamento, acessar o software de troca de mensagens, debruçar-se sobre o teclado e pronto. Você conversa com o vizinho, não importa se ele mora no seu prédio ou lá para os lados do Japão.

A idéia de criar este blog surgiu após o trabalho final de um curso básico de fotografia realizado no Ateliê da Imagem, cujo tema foi Janelas. A cada semana, será publicada a foto de uma janela (ou um conjunto delas) e um texto correspondente.

Pelas janelas, a gente faz mais do que conversar. Conhece o mundo, admira, grita, fica impressionado, testemunha, descobre segredos, observa, leva sustos, esconde, revela, joga a chave, joga a bola, arremessa gaivota de papel.

Olha na janela e depois venha correndo conferir o nosso blog!